O câncer de mama influencia diretamente na identidade da mulher e sua feminilidade. Qualquer doença ou situação que gere risco para um indivíduo, impacta significativamente seus relacionamentos.
Todos nós sabemos que um dia iremos morrer, mas a proximidade de uma doença traz a morte tão perto, e no sentido mais positivo dessa experiencia, as pessoas passam a pensar em formas adequadas para aproveitar todas as oportunidades da vida. Em outras situações a proximidade com a ideia de morte deixa as pessoas perturbadas e deprimidas.
É natural que os relacionamentos sejam abalados: insegurança, medo, mudança de rotina, alto nível de exigência sobre o outro, percepção diferente sobre a parceria, superproteção, dentre outros.
Fique atento as mudanças do cotidiano da família e do casal.
O importante a pensar é que as relações são construídas a partir da dedicação dos envolvidos; se estou dedicada à minha recuperação física, não estou disponível para investir na relação por exemplo. E nesse ínterim, a outra pessoa me vendo com necessidades específicas, tende a me prestar mais auxílio. Essas mudanças ocorrem no cotidiano da família e do casal, e a maneira com que todos enfrentam as dificuldades advindas de uma doença como o câncer, é que nos dirá qual o tamanho do impacto sobre cada um.
Outra mudança importante são as alterações emocionais vivenciadas pelos indivíduos doentes. Sejam elas estimuladas pelos medicamentos, seja pela situação de dependência/impotência/ansiedade inerentes à doença.
Agora, quando nos referimos especificamente ao câncer de mama, precisamos nos ater a uma questão muito peculiar relacionada à identidade feminina. As mamas são parte de um símbolo de feminilidade, bem como: sensualidade, beleza, delicadeza e inclusive competência materna, no que se refere ao poder de amamentar a prole.
Um comprometimento da mama, impacta em como a mulher se sentirá na execução de seu papel de mulher e mãe. Infelizmente a cultura da beleza perfeita só aumentará o medo e as sensações de inadaptação desta mulher.
Mas se você tem câncer de mama, lhe deixo algumas questões:
- Como você acredita que estar lidando com o seu câncer?
- Como tem tratado seu corpo?
- E sua parceria, o quanto você tem se permitido compartilhar e dividir suas angústias?
Principalmente quando falamos sobre o relacionamento afetivo, ter dúvidas sobre seu corpo interfere diretamente no quanto desejamos ou não investir na relação. O câncer de mama ainda é uma doença tabu e precisamos ensinar aos outros como gostaríamos de ser tratadas.
Muitas vezes a mulher se afasta e tem atitudes de afastamento da relação já no inicio do diagnóstico do câncer de mama. Como consequência acaba se sentindo mais sozinha e menos desejada. Precisamos entender que é exatamente para o lado contrário que precisamos caminhar. Não é necessário nem benéfico passar por isso sozinha. Vale muito à pena pedir ajuda para aceitarmos um corpo diferente – que aos poucos poderá se recuperar dos prejuízos na pele, no cabelo, no peso, com a própria reconstrução das mamas, etc.
Partilhar medos, pedir ajuda, segurar uma mão amiga é o começo para enfrentar as dificuldades do tratamento e da recuperação.
Tratamento para o câncer de mama
Além dos protocolos para o tratamento do câncer de mama em seu aspecto físico, é imprescindível que a mulher se permita cuidar do psicológico.
A psicoterapia auxilia muito nessa necessidade de reestruturação corporal. Entender que nosso corpo não é apenas um físico, mas uma construção emocional ao logo de nossa vida é importante. Será necessário aprender uma nova relação com as mamas. Será relevante entender como entende o afeto, o desejo sexual, sua imagem como mulher.
E só para terminar vale lembrar que o amor é construído aos poucos, seja em situações fáceis ou difíceis. Somente se nos permitirmos investir na relação é que poderemos ter a outra parte compartilhando conosco e nos apoiando.
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