Quando falamos em luto, a primeira coisa que precisamos pensar é que TUDO MORRE, TUDO UM DIA ACABA.
O peixinho que ganhei de presente… morre.
O cachorrinho… morre.
A plantinha… morre.
O papai, a mamãe, o vovô, a vovó…morrem.
O lápis de cor que eu mais gosto… acaba… é como se morresse.
O bolo de chocolate acaba…
O meu melhor amiguinho na escola um dia vai embora… então um dia acaba.
Temos inúmeras situações em que a criança passará pela FINITUDE o que segundo o Dicio¹ significa: Característica, particularidade ou condição do que é finito. Que tem um fim.
Portanto a morte, o fim, o acabar, fazem parte da vida. É uma consequência de um tempo em que tivemos a pessoa, animal ou objeto em nossa companhia.
É claro que, se foi uma boa companhia, sentiremos falta, muita falta! E a criança também sentirá muita falta…
O processo de luto pode ser considerado como o período em que a família terá para se adaptar ao cotidiano, na ausência daquela pessoa ou animalzinho de estimação.
Portanto quando se diz que que o luto precisa ser vivenciado, elaborado, o fundamental é entender é que esse processo é inevitável e será importante ser vivenciado e não escondido, ou camuflado, como se não estivesse acontecendo.
Mesmo que ainda muito pequenas, as crianças identificam a presença das outras pessoas, e mesmo que elas não saibam falar, podem apresentar outros comportamentos para expressar a falta do que vivenciavam com a pessoa que se foi. Perda de apetite, agressividade não habitual, apatia, tristeza, isolamento, perda de interesse inclusive pelos brinquedos preferidos – principalmente se eram compartilhados com a pessoa que se foi, dentro outros.
Os pais devem agir com o máximo de naturalidade em relação ao evento. Não mistificar, não esconder e tentar explicar da melhor forma que a cultura, religião e ética seguida pela família conceber. Um desenho infantil que trata o assunto de maneira singela e serena é o FESTA NO CÉU. Entretanto as famílias podem fazer uso de seus conteúdos religiosos para explicar o acontecimento.
A criança não pode ser excluída simplesmente do fato. Ela precisa saber que pode falar sobre o assunto, que é normal sentir saudades, que pode chorar, que pode lembrar, e precisa ter nos pais o apoio sobre como agir com estes sentimentos de perda. É preciso que ela se sinta à vontade para expressar seus sentimentos e não receosa ou abandonada neste momento. Fazer de conta que nada aconteceu na tentativa de proteger a criança pode ser interpretado por ela com abandono, tendo em vista que os pais apresentarão formas de comportamentos não habituais como tristeza, apatia, etc.
Nos exemplos do início do texto percebemos inclusive como é importante tratar a finitude em todas as questões com a criança. Quando um brinquedo quebra (morre) ele não deve ser substituído. O ideal é que a família aproveite este evento para discutir sobre o cuidado e responsabilidade com seus pertences, sobre os sentimentos gerados pela perda do brinquedo e também sobre as possibilidades que ainda restam para a diversão e alegria, mesmo que o seu brinquedo preferido tenha se quebrado.
Por meio destas discussões com a criança, ela criará modelos de comportamentos e de alternativas para utilizar em todas as situações. E cada vez em que se deparar com situações de finitude, poderá discutir novas alternativas.
Desta maneira, ao longo de seu desenvolvimento, estará mais preparada para enfrentar a falta de pessoas muito queridas e que fatalmente um dia deixarão seu convívio.
A morte ainda é tratada como tabu exatamente pela dificuldade de lidarmos com a perda principalmente de pessoas queridas; por não sabermos como seguir em frente quando nos deparamos com o vazio deixado por quem se foi. Este vazio é na realidade o fruto da relação estabelecida entre as pessoas, dos encantos e desencantos da relação, dos prazeres, das conquistas em conjunto. Porém é necessário aprendermos sobre a finitude e ensinarmos que mesmo com dificuldades, mesmo nos sentindo tristes e sem forças, precisamos continuar em frente. E se não tivermos este preparo, muito provavelmente não conseguiremos preparar nossos pequenos para enfrentar estas situações.
Como pais, educadores, cuidadores responsáveis, precisamos nos preparar para estes momentos em que nosso equilíbrio emocional será exigido, onde nossos limites serão testados, nossas crenças questionadas… e que sem dúvidas também será para nós um grande processo de aprendizagem.
Sentir tristeza é normal, saudades é muito bom, e lembranças são inevitáveis. O importante é perceber que podemos e devemos nos expressar para as crianças, pois esta é a melhor forma de aprendizagem e de estabelecimento de vínculo de confiança que podemos ter.
E sem dúvidas que, percebendo que os sentimentos de tristeza, isolamento, apatia perdurem por um tempo demasiado, ou tomem conta da maior parte do dia da criança, é sempre bom buscar apoio profissional para uma avaliação mais detalhada.
¹ DICIO – Dicionário On line de Português
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